Por que o sono está virando artigo de luxo no Brasil?

No Brasil, dormir bem está se tornando um desafio cada vez maior. Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2023 revelou que 72% dos brasileiros adultos relatam problemas para manter uma rotina de sono saudável, um aumento de 15% em relação a 2019. 


O motivo? Uma combinação de fatores que vão desde o aumento da exposição a telas até a pressão econômica que mantém as pessoas acordadas por mais tempo.


A neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, especialista em sono e cérebro, explica que a privação de sono já é uma epidemia silenciosa. "O brasileiro médio dorme hoje cerca de 6,4 horas por noite, bem abaixo das 7 a 9 horas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. 


Isso afeta diretamente a memória, o sistema imunológico e até a regulação emocional", afirma ela em uma entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo. 


Dados do IBGE reforçam o alerta: em 2024, o uso de medicamentos para dormir cresceu 23% entre pessoas de 25 a 40 anos, faixa etária que coincide com o pico de produtividade profissional.


A urbanização também pesa. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro registram níveis de ruído noturno que ultrapassam os 55 decibéis recomendados pela OMS, segundo um estudo da Universidade de São Paulo (USP). 


Some-se a isso o hábito de ficar até tarde nas redes sociais – uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontou que 68% dos jovens brasileiros passam mais de duas horas por dia no celular antes de dormir, atrasando a produção de melatonina, o hormônio do sono.


Curiosamente, o problema não é exclusividade das grandes cidades. Em áreas rurais, a adoção de turnos noturnos em agroindústrias tem alterado o ritmo circadiano de trabalhadores, conforme relatório do Ministério do Trabalho publicado em janeiro de 2025. 


Enquanto isso, startups de tecnologia tentam lucrar com a crise: aplicativos de meditação e dispositivos de rastreamento de sono faturaram R$ 1,2 bilhão no Brasil só em 2024, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia.


O impacto vai além do cansaço. Estudos da Universidade de Harvard mostram que dormir menos de seis horas por noite aumenta em 48% o risco de doenças cardiovasculares – uma informação preocupante num país onde infartos já são a principal causa de morte, segundo o Datasus.


Foto: IA

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