A criação de órgãos humanos em laboratório sempre foi um sonho da medicina regenerativa. Agora, um estudo publicado na renomada revista "Cell" oferece novas esperanças com dois métodos promissores: modelos de embriões e quimeras interespecíficas.
Esses avanços podem revolucionar a maneira como tratamos doenças graves que exigem transplantes de órgãos. Com o avanço das pesquisas, os cientistas esperam um dia poder criar órgãos humanos totalmente funcionais em laboratório, eliminando a necessidade de doadores e salvando inúmeras vidas.
O desafio da falta de órgãos
Atualmente, milhares de pessoas em todo o mundo aguardam por transplantes de órgãos. Nos Estados Unidos, mais de 100 mil pessoas estão na lista de espera para transplantes, com 17 indivíduos morrendo diariamente na espera.
Embora o xenotransplante, utilizando órgãos de animais geneticamente modificados, tenha mostrado progresso, ainda há incertezas sobre a viabilidade a longo prazo desses órgãos em humanos.
A engenharia de órgãos baseada em células humanas, através da engenharia de tecidos, bioprinting e organoides, tem obtido avanços significativos. No entanto, essas tecnologias ainda não conseguem replicar completamente elementos funcionais essenciais como vascularização, inervação e a organização celular complexa necessária para órgãos sólidos.
O estudo enfatiza a importância de replicar os processos naturais de desenvolvimento embrionário, onde células epiblastos pluripotentes se organizam em camadas germinativas, essenciais para a formação de tecidos e órgãos.
Os modelos de embriões e a organogênese interespecífica poderiam, teoricamente, permitir o desenvolvimento de órgãos humanos em ambientes que imitam suas condições naturais de crescimento.
Os pesquisadores Jun Wu, da Universidade do Texas, e Jianping Fu, da Universidade de Michigan, estão à frente dessas novas abordagens. Eles acreditam que os modelos de embriões e as quimeras interespecíficas podem ser a chave para resolver esse problema.
Este método envolve criar modelos de embriões humanos a partir de células-tronco. Essas células são cultivadas em laboratório para imitar os estágios iniciais do desenvolvimento embrionário.
"Estamos tentando recriar o ambiente natural onde os órgãos se formam", explica Jun Wu. "Ao fazer isso, esperamos que esses modelos possam crescer e se transformar em órgãos funcionais".
Neste caso, células-tronco humanas são injetadas em embriões de animais, como porcos, que são geneticamente modificados para não formar certos órgãos.
"O objetivo é que o embrião animal hospede as células humanas e permita o desenvolvimento do órgão humano", diz Jianping Fu. "É como se usássemos o animal como uma 'incubadora' para os órgãos humanos", acrescenta.
Apesar do potencial, esses métodos ainda enfrentam muitos desafios. A criação de modelos de embriões humanos precisa ser aperfeiçoada para garantir que os órgãos se desenvolvam corretamente. "Precisamos entender melhor os processos que guiam o desenvolvimento embrionário", afirma Wu. "Ainda há muito a ser descoberto".
As quimeras interespecíficas também levantam questões éticas e técnicas. É necessário garantir que os órgãos cresçam de maneira segura e sejam compatíveis para transplantes em humanos. "Estamos apenas no começo desta jornada", destaca Fu. "Mas os resultados preliminares são promissores".
A pesquisa de Jun Wu e Jianping Fu representa um marco importante na busca por soluções inovadoras para a escassez de órgãos. Embora ainda haja desafios significativos a serem superados, os progressos feitos até agora são encorajadores e oferecem uma nova esperança para pacientes em todo o mundo.
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