Fabricantes de automóveis transformam carros em máquinas devoradoras de dados

Por anos, os fabricantes de automóveis têm se orgulhado de seus veículos, destacando as características avançadas que tornam a experiência de dirigir mais confortável e conectada do que nunca.

No entanto, uma questão que ainda não recebeu a devida atenção é o impacto que essa transformação tecnológica tem na privacidade dos ocupantes dos carros. 


À medida que os carros se tornam cada vez mais conectados e repletos de sensores e dispositivos, eles também se tornam verdadeiras máquinas devoradoras de dados, capazes de coletar, observar e compartilhar informações pessoais em uma escala alarmante.



Uma pesquisa recente realizada com 25 marcas de automóveis lança luz sobre a preocupante falta de privacidade nos veículos. 


Todas as marcas pesquisadas receberam um rótulo de aviso "Privacidade não incluída", tornando os carros a categoria de produtos com a pior classificação em termos de privacidade. 


Mas por que exatamente os carros estão tão atrasados em relação aos padrões de privacidade? 


1. Coleta excessiva de dados pessoais:


A pesquisa revelou que todas as marcas de automóveis coletam uma quantidade surpreendente de dados pessoais dos motoristas e passageiros, indo muito além do que seria necessário para a operação do veículo. 


As montadoras têm a capacidade de coletar dados extremamente íntimos, como informações médicas e genéticas, hábitos de direção e preferências musicais, que são usados para criar inferências sobre a personalidade, habilidades e interesses do motorista.


O problema é que as empresas têm mais oportunidades de coletar dados do que a maioria dos outros produtos e aplicativos que usamos em nosso dia a dia, incluindo dispositivos inteligentes em nossas casas e smartphones. 


Elas podem coletar informações pessoais sobre como você interage com seu veículo, os serviços conectados que você utiliza, o aplicativo do carro (que fornece um portal para informações em seu smartphone) e até mesmo informações de fontes de terceiros. Essa coleta de dados é incrivelmente abrangente e complicada, a ponto de ser difícil de rastrear e entender.


2. Compartilhamento e venda de dados:


Outro aspecto alarmante é que 84% das marcas de automóveis pesquisadas afirmam que podem compartilhar dados pessoais com terceiros, incluindo prestadores de serviços, corretores de dados e outras empresas. 


O que é ainda mais preocupante é que 76% delas admitem que podem vender os dados pessoais dos ocupantes. Além disso, 56% afirmam que podem compartilhar informações com o governo ou autoridades policiais em resposta a uma "solicitação". 


Isso significa que as montadoras não apenas têm acesso a dados altamente pessoais, mas também estão dispostas a compartilhá-los com entidades sobre as quais muitas vezes sabemos pouco ou nada.


3. Falta de controle dos motoristas sobre seus dados:


O estudo mostrou também que a esmagadora maioria das marcas de automóveis (92%) não oferece aos motoristas nenhum controle significativo sobre seus dados pessoais. 


Apenas duas marcas, Renault e Dacia, garantem o direito de exclusão de dados. No entanto, essa garantia se aplica apenas na Europa, onde as leis de privacidade são mais rígidas. 


Isso significa que, na prática, as empresas têm a liberdade de fazer o que quiserem com os dados pessoais dos motoristas, dentro dos limites da lei. 


4. Padrões mínimos de segurança não confirmados:


Além disso, a pesquisa não conseguiu confirmar se alguma das marcas de automóveis atende aos padrões mínimos de segurança em termos de criptografia de dados. 


Essa falta de transparência em relação à segurança cibernética é especialmente preocupante, considerando que 68% das marcas analisadas enfrentaram vazamentos, hacks e violações de privacidade nos últimos três anos. 

Resultados específicos para algumas marcas


Além das descobertas gerais, algumas marcas tiveram resultados específicos. A Tesla, por exemplo, foi a segunda empresa a receber todas as "bandeiras vermelhas" de privacidade, o primeiro sendo um chatbot de IA. 


A principal razão para isso foi a falta de confiabilidade na IA do piloto automático da Tesla, que esteve envolvida em 17 mortes e 736 acidentes e atualmente está sob investigação governamental.


A Nissan se destacou por coletar informações extremamente sensíveis, incluindo detalhes sobre a "atividade sexual" dos ocupantes. Além disso, seis montadoras admitem a possibilidade de coletar informações genéticas. 

A falta de escolha do consumidor


Uma das principais preocupações levantadas pela pesquisa é a falta de escolha que os consumidores têm quando se trata de carros e privacidade. 


Diferentemente de outros produtos, como dispositivos inteligentes para casa ou assistentes de voz, onde os consumidores podem optar por não usar esses produtos, muitas pessoas dependem de seus carros para seus estilos de vida. 


Isso significa que, ao contrário de simplesmente desligar um dispositivo, os motoristas muitas vezes não têm a liberdade de não dirigir.


Além disso, as pessoas geralmente não compram carros com base na privacidade. E isso é compreensível, uma vez que existem muitos outros fatores que influenciam a escolha de um veículo, como custo, eficiência de combustível, disponibilidade, confiabilidade e dispositivos necessários. 


Mesmo se os consumidores tivessem os recursos para comparar carros com base na privacidade, a pesquisa mostra que a maioria deles é deficiente em termos de proteção de dados, tornando a escolha do consumidor uma tarefa quase impossível.

O que pode ser feito?


Embora as preocupações com a privacidade não ofereçam soluções diretas para os consumidores, os carros também não são produtos que podem ser simplesmente desligados ou substituídos por opções mais seguras. 


No entanto, existem algumas medidas que os motoristas podem adotar para proteger dessa invasão:


- Limitar permissões dos aplicativos de carro.

- Evitar o uso do aplicativo de carro, uma vez que muitos compartilham políticas de privacidade com o veículo.

- Questionar as montadoras sobre suas práticas de privacidade.

- Ler as políticas de privacidade e conhecer seus direitos.

- Conscientizar-se sobre o compartilhamento de dados com terceiros.


É importante destacar que essas medidas são pequenas gotas em um oceano de coleta de dados e, muitas vezes, podem parecer ineficientes diante da imensidão de informações.


Foto: Internet

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