As descobertas científicas que podem frear ou reverter o envelhecimento

O envelhecimento é um processo complexo e multifatorial, que envolve alterações biológicas, psicológicas e sociais ao longo do tempo. Essas alterações podem levar ao surgimento de doenças crônicas, como câncer, diabetes, Alzheimer e outras, que comprometem a saúde e a funcionalidade das pessoas.

Por isso, muitos cientistas consideram o envelhecimento como uma doença em si, que pode ser tratada ou mesmo curada. Pesquisadores têm buscado formas de frear o envelhecimento e prolongar a vida humana com saúde e qualidade.


Uma das principais teorias sobre o envelhecimento é a da perda de informação. Segundo essa premissa, o envelhecimento ocorre porque as células perdem gradualmente a capacidade de manter a integridade do seu material genético (DNA) e das suas estruturas (proteínas, lipídios, etc.). 



Essa perda de informação leva ao acúmulo de danos celulares, que afetam o funcionamento dos tecidos e órgãos. Além disso, a comunicação entre as células também se torna menos eficiente, prejudicando a coordenação dos processos biológicos.


“Quando o corpo não consegue mais acompanhar o ritmo de reparação, o envelhecimento começa”, diz Kaare Christensen, médico e coordenador do Centro Dinamarquês de Pesquisa do Envelhecimento.


Para evitar ou reverter essa perda de informação, os cientistas estudam uma forma de ativar os mecanismos de reparo celular e de estimular as vias de sinalização que regulam o metabolismo, a inflamação, o estresse oxidativo e a morte celular. 


Uma das estratégias mais promissoras é a manipulação dos genes que controlam esses mecanismos e vias. Esses genes são chamados de genes da longevidade ou sirtuínas.


As sirtuínas são uma família de enzimas que atuam como sensores do estado celular e modulam a expressão de vários outros genes. Elas são ativadas por situações de estresse moderado como: restrição calórica, exercício físico, exposição ao frio ou ao calor, entre outras. 


Um dos maiores especialistas em sirtuínas é o geneticista David Sinclair, da Universidade Harvard. Ele defende que é possível retardar ou reverter o envelhecimento com medicamentos que ativem as sirtuínas ou que forneçam moléculas precursoras dessas enzimas. 


“Envelhecer é uma doença que pode ser curada, ativando os mecanismos de reparo celular e de estimulação das vias de sinalização que regulam o metabolismo, a inflamação, o estresse oxidativo e a morte celular”, afirma ele. 


Um desses medicamentos é o resveratrol, um composto encontrado no vinho tinto, que tem sido estudado como um potencial ativador das sirtuínas. Outro é o NMN (nicotinamida mononucleotídeo), um precursor da NAD (nicotinamida adenina dinucleotídeo), uma molécula essencial para o funcionamento das sirtuínas. 


Sinclair afirma que toma esses dois compostos diariamente e que eles têm melhorado sua saúde e sua aparência. Dessa forma, elas contribuem para manter a homeostase celular e aumentar a resistência ao envelhecimento.


No entanto, ainda não há evidências conclusivas sobre a eficácia e a segurança desses medicamentos em humanos. Por isso, Sinclair recomenda que as pessoas adotem hábitos simples que também podem ativar as sirtuínas naturalmente. Entre eles estão:


  • Fazer jejum intermitente ou reduzir a ingestão calórica em 15% a 25%. Isso pode aumentar a sensibilidade à insulina, reduzir os níveis de glicose e gordura no sangue e estimular a autofagia (processo de limpeza celular).


  • Praticar exercícios físicos regularmente para melhorar o sistema cardiorrespiratório, fortalecer os músculos e os ossos, prevenir a sarcopenia (perda de massa muscular) e aumentar a produção de hormônios benéficos.


  • Expor-se ao frio ou ao calor moderados. Isso pode ativar os genes de defesa celular, aumentar o fluxo sanguíneo e a oxigenação dos tecidos e induzir a termogênese (queima de calorias).


  • Dormir bem favorecer a consolidação da memória, a regulação hormonal, a recuperação muscular e a eliminação de toxinas do cérebro.

  • Manter uma alimentação balanceada e rica em antioxidantes, para fornecer os nutrientes necessários para o funcionamento celular, prevenir o acúmulo de radicais livres e inflamação e modular o microbioma intestinal (conjunto de bactérias que habitam o intestino e influenciam a saúde).


  • Evitar o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e outras drogas. Esses hábitos aceleram o envelhecimento precoce da pele, dos pulmões, do fígado e do cérebro, além de aumentar o risco de câncer e outras doenças.


  • Cultivar relações sociais positivas e manter-se mentalmente ativo aumenta a autoestima, a motivação, a criatividade e a resiliência, além de proteger contra a depressão, a ansiedade e o declínio cognitivo.


Além dessas dicas, existem outras formas de frear o envelhecimento que estão sendo investigadas pela ciência. 


Uma delas é a terapia genética, que consiste em introduzir genes modificados nas células para corrigir defeitos ou conferir novas funções. Por exemplo, alguns cientistas estão tentando reativar os genes que controlam a produção de telomerase, uma enzima que alonga os telômeros (extremidades dos cromossomos que se encurtam com o tempo e limitam a divisão celular).


“A ciência conseguirá curar o envelhecimento no futuro, usando desde micro-organismos a órgãos impressos em 3D”, conta João Pedro de Magalhães, biólogo e professor da Universidade de Liverpool.


Outra técnica é a terapia celular: transplantar células jovens ou reprogramadas para substituir ou regenerar células danificadas ou envelhecidas. Uma forma de fazer isso é por meio de células-tronco (células capazes de se diferenciar em vários tipos celulares) para reparar tecidos lesionados ou degenerados, como o coração, o fígado ou o cérebro.


A bioengenharia é a criação de órgãos artificiais ou biônicos para substituir ou complementar órgãos falhos ou insuficientes. Cientistas estão tentando usar impressoras 3D para fabricar órgãos com tecidos vivos ou sintéticos, como rins, pâncreas ou olhos.


E por último a nanotecnologia, uma forma de manipular materiais em escala nanométrica (lida com coisas minúsculas) para criar dispositivos ou sistemas capazes de interagir com as células e os tecidos. Para isso, os pesquisadores querem usar nanorrobôs que possam entrar no corpo humano e realizar funções como diagnosticar doenças, liberar medicamentos ou reparar danos celulares.


Essas são algumas das possibilidades que a ciência oferece para frear o envelhecimento e viver muito. No entanto, ainda há muitos desafios éticos, sociais e econômicos que precisam ser enfrentados antes que essas tecnologias se tornem acessíveis e seguras para todos. 


Enquanto isso não acontece, podemos seguir as recomendações simples que já sabemos que funcionam: comer saudável, dormir bem, exercitar-se e viver com o mínimo de estresse possível. Esses são os melhores remédios para envelhecer com saúde e felicidade.


Foto: Canva

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