“Ele
já chegou bem grave, com rebaixamento do nível de consciência, ou
seja, estava bem sonolento, desorientado. Por conta da doença, os
rins não funcionavam, ele não urinava; tinha insuficiência
hepática, então os olhos eram bem amarelados. Ele sangrava pela
boca, fezes e vômito”.
Essa
é uma das experiências com pacientes em estado grave vividas pela
médica Aline Barbosa, em uma das missões que participou junto aos
Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Aline Barbosa é médica formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Há quatro anos largou o trabalho fixo para se dedicar à ajuda humanitária realizada pelo MSF.
Nesse período, passou por cinco missões: no Quênia, onde pessoas vivem com menos de um dólar por dia e não possuem acesso fácil à saúde; chegou ao Nepal após um terremoto devastar a região; em março de 2016 foi para a Angola para tratar de uma epidemia de febre amarela; em seguida para o Equador, também por causa de um terremoto, com o intuito de avaliar e minimizar os traumas psicológicos sofridos pelos moradores após o desastre; e por último, foi para o Haiti depois da passagem de um furação.
“Eu sempre gostei de trabalho humanitário. Já tinha feito trabalho voluntário em abrigo de crianças. Fiquei encantada depois de ouvir, em uma palestra, a experiência do meu professor com o MSF, e sai de lá dizendo que algum dia eu ia também. Isso junta três coisas que gosto muito: medicina, trabalho humanitário e a possibilidade de conhecer novas culturas”, explica a médica.
Já o paciente era um rapaz de 18 anos, morador de Angola, onde a
organização humanitária internacional atua incisivamente no
combate à doenças, epidemias e desnutrição.
Os
sintomas são de um quadro clínico de febre amarela, doença
transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, vetor também do
vírus zika, degue e chikungunya.
A febre amarela foi erradicada no
Brasil desde 1942, mas segundo dados do portal do Ministério da Saúde – entre julho de 2019 e ano 2020 – foram notificados 3.196 casos humanos de febre amarela silvestre (restritos à região
amazônica).
Não
existe tratamento para o vírus, as vítimas precisam de suporte
médico para que o corpo reaja e iniba os sintomas: “Nós ficamos
bem perto para fazer o que fosse possível, mas no primeiro dia ele
só piorava. À noite ele teve sete episódios de convulsão e ficou um
período em coma”, relata Aline.
Cerca
de doze dias depois, com cuidados intensos e seis tipos de
procedimentos médicos, o jovem se
recuperou e ganhou alta. Mas Barbosa confessa ter
perdido muitas vítimas com idade entre 20 e 30 anos.
A
organização Médicos Sem Fronteiras dedica-se a dois tipos de
missões, as regulares – ações frequentes de combate à doenças,
epidemias e controle na área da saúde – e as emergenciais, como
no caso de catástrofes naturais.
Foto: Instagram Médicos Sem Fronteiras
Publicidade
0 Comentários