No Brasil, os cabelos cacheados e crespos estão no centro de uma transformação que vai muito além da estética. Em 2024, o mercado de produtos voltados para esses tipos de cabelo movimentou R$ 2,8 bilhões, um crescimento de 25% em relação a 2022, segundo a NielsenIQ.
Marcas como Salon Line, Lola Cosmetics e Cacheia lideram, mas o que realmente chama atenção é o impacto cultural: assumir os cachos virou um grito de liberdade e identidade para milhões de brasileiros, especialmente mulheres negras e pardas.
A transição capilar – o processo de abandonar químicas como alisamentos e relaxantes – ganhou força na última década. Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicado em 2023, revelou que 62% das mulheres brasileiras com cabelos cacheados ou crespos pararam de usar progressivas, contra apenas 38% em 2018.
“É um movimento de retorno às raízes, literal e figurativamente”, diz a socióloga Mariana Costa, coautora do estudo. Ela aponta que redes sociais, como Instagram e TikTok, amplificaram o debate: influenciadoras como Ana Lídia Lopes, com 1,2 milhão de seguidores, e Nátaly Neri, com 800 mil, compartilham rotinas de cuidados, dicas de hidratação e, acima de tudo, histórias de autoaceitação que ressoam com um público de 20 a 50 anos.
Técnicas como o corte a seco, que preserva o formato natural dos fios, e o uso de cremes ativadores de cachos explodiram em salões. A cabeleireira Tati Guimarães, do Rio de Janeiro, viu sua clientela dobrar desde 2020. “As pessoas querem volume, definição e, principalmente, se sentir representadas”, conta.
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) mostram que shampoos e condicionadores sem sulfatos, ideais para cachos, representaram 40% das vendas de cuidados capilares em 2024.
A dermatologista Paula Lima, de São Paulo, alerta para um problema: “Muitas marcas rotulam produtos como ‘naturais’, mas incluem silicones pesados ou petrolatos, que acumulam nos fios e atrapalham a saúde do cabelo”.
A Anvisa, em 2024, multou 12 empresas por propaganda enganosa nesse segmento, segundo relatório da agência.
Enquanto isso, marcas internacionais como Shea Moisture e Cantu disputam espaço com as nacionais, que respondem por 65% do mercado, segundo a ABIHPEC.
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