Juventude frágil: quem são as pessoas que vivem anos isoladas sem sair do quarto

O nome para a síndrome que afeta milhares de pessoas no Japão e em outros lugares do mundo - assim como no Brasil - chama-se hikikomori e significa isolamento severo em japonês. 

Esse termo ganhou visibilidade nos anos 90, quando o psicólogo Tamaki Saito, em seu livro Social Withdrawal – Adolescence Without End, publicado em 1998, apontou a fragilidade e o medo social como sendo o motivo da reclusão desses jovens por 6 meses ou até anos.


A maioria dos hikikomoris (53,7% homens, 46,2% mulheres) não trabalha e nem estuda; vivem à custa dos pais e evitam contato com os familiares.  


O governo do país estima que existam mais de 1 milhão de pessoas de 13 a 29 anos vivendo nessas condições. “O problema é que como eles estão fora do convívio social, é difícil saber ao certo, mas esse número pode chegar a 2 milhões ou mais”, diz Saito.


Anúncio

O que afeta os hikikomoris


O estado de isolamento profundo afeta a população japonesa devido ao alto padrão cultural, no qual quem se diferencia dos demais é socialmente discriminado. 


Os hikikomoris são influenciados pela “cultura da vergonha”, onde perder o emprego, ter um relacionamento fracassado ou dívidas, leva o indivíduo a querer sumir e evitar o encontro com outras pessoas.


O rígido processo seletivo e os deveres e obrigações exigidos pelas empresas e pelos pais - que cobram para que os jovens tenham uma carreira brilhante -, também facilita para que muitos se tornem hikikomoris. 


Uma em cada 3 pessoas acima dos 40 anos se isolaram porque tiveram problemas para encontrar e ou se estabilizar em um emprego. 


Para a população mais jovem, ainda na fase de estudante, o gatilho para entrar em reclusão social pode começar com os bullyings e pressão vinda diretamente dos professores. Porém, Tamaki afirma que, no primeiro momento, o recolhimento rígido é espontâneo, mas ele esclarece que com o passar do tempo acaba virando um ciclo vicioso. 


“Normalmente, os indivíduos, a família e a sociedade estão conectados, mas quando as pessoas se afastam da sociedade, elas perdem esses pontos de contato, e sua família também gradualmente se separa da sociedade devido a um sentimento de vergonha”, diz ele em uma entrevista para o site Nippon. 


Anúncio

Os hikikomoris têm alguma doença psicológica?


Na verdade, de acordo com uma pesquisa publicada na National Library of Medicine, alguns hikikomoris apresentaram, sim, tipos diferentes de problemas psicológicos, dentre eles: esquizofrenia; transtornos de ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático ou transtorno de ansiedade social; transtorno depressivo maior ou outros transtornos do humor; e transtornos de personalidade. No entanto, o estudo apontou que o problema está ligado muito mais ao padrão cultural do país do que aos transtornos acima. 


Casos como esses, de isolamento prolongado, também foram constatados na Espanha pela psiquiatra Ángeles Malagón Amor, do Hospital del Mar, durante atendimentos domiciliares em Barcelona. De 2008 a 2014 foram registrados 190 casos.


As pesquisas ainda estão em processo inicial e precisam de outros diagnósticos para comprovar se os hikikomoris realmente sofrem de distúrbios psiquiátricos. Entretanto, os resultados indicam que homens possuem uma tendência maior a desenvolver uma desordem mental durante o afastamento social. 


Anúncio


“Acreditamos que seria prematuro propor que hikikomori é um transtorno que deveria ser incluído no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Estudos que examinaram o diagnóstico entre os hikikomori chegaram ao mesmo resultado: uma pequena parcela dos hikikomori não se enquadra na classificação de um transtorno psiquiátrico tradicional”, afirma o estudo.

Como é a vida de um hikikomori


Basicamente, por estarem reclusos em seus quartos, jovens passam o dia ou à noite navegando pela internet ou jogando games online. A comunicação com os pais é mínima e a saída do recinto, às vezes, é apenas para comer ou ir ao banheiro. Alguns fazem uso de medicamentos para dormir e para conter a ansiedade. 


O governo japonês criou um projeto que visa ajudar esses indivíduos a superar as frustrações para que  saiam do isolamento, mas não existe um plano de resguardo para eles quando os pais morrerem. 


Foto: Ilustração

Publicidade

Postar um comentário

0 Comentários

AVISO: Este site é apenas informativo. As informações aqui contidas não substituem o aconselhamento de um especialista. Consulte sempre um profissional qualificado para obter orientações específicas.