Uruguai elege Yamandú Orsi como seu novo presidente, representando a continuidade do projeto de governo da Frente Ampla. Para entender o impacto de sua eleição, é fundamental olhar para a trajetória política e econômica do país, marcada por desafios internos e externos, além das escolhas que moldaram o cenário atual.
O país atravessou um período de grandes transformações a partir dos anos 2000, quando a Frente Ampla, uma coalizão de esquerda, assumiu o poder pela primeira vez.
Com a eleição de Tabaré Vázquez em 2005, o país iniciou uma nova fase política, caracterizada por políticas focadas em inclusão social, direitos civis e maior presença do Estado na economia.
A Frente Ampla, com seu perfil progressista, trouxe avanços sociais, como a implementação de programas de combate à pobreza, expansão do acesso à saúde e educação, além da introdução de reformas importantes, como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto durante o governo de José Mujica, em 2012.
No entanto, o impacto econômico dessas políticas foi mais complexo. Durante os governos da Frente Ampla, o Uruguai experimentou crescimento econômico, mas também enfrentou desafios fiscais e econômicos, especialmente devido ao modelo de Estado de bem-estar social e à expansão dos gastos públicos.
A redução da pobreza foi notável, mas o crescimento foi estagnado em certos setores, com dificuldades para atrair investimentos estrangeiros de maneira robusta e diversificar a economia.
Embora os governos tenham se esforçado para aumentar o consumo interno e melhorar a qualidade de vida, a produtividade não acompanhou o ritmo das políticas sociais.
Muitos economistas apontaram que o país sofreu com um crescimento abaixo do potencial, em grande parte devido ao excesso de regulação e uma estrutura produtiva que não foi modernizada da maneira necessária.
Em termos de comércio e mercado externo, o Uruguai manteve relações estreitas com seus vizinhos, mas o foco do governo na proteção social e nas políticas internas limitou a abertura do país para novos mercados, fator que teria sido crucial para um desenvolvimento econômico mais sustentável.
O emprego de subsídios para setores como a agricultura e a energia também foi uma estratégia que gerou debates sobre a eficiência desses gastos, especialmente em tempos de crise econômica global.
Apesar dessas dificuldades econômicas, o Uruguai manteve uma estabilidade política relativa, em grande parte devido à democracia sólida estabelecida após o fim da ditadura militar (1973-1985).
Porém, a presença de movimentos socialistas dentro da Frente Ampla gerou tensões sobre o modelo econômico adotado. Embora os comunistas não tenham tido poder absoluto, algumas das suas propostas impactaram as políticas do governo, especialmente nas questões de direitos trabalhistas e redistribuição de renda.
A visão de um socialismo moderado, defendida por figuras como Mujica, foi uma das maiores influências ideológicas durante o período, apesar da resistência de setores mais conservadores da sociedade.
Com a vitória de Orsi, o Uruguai segue tentando equilibrar essas duas áreas — políticas sociais e crescimento econômico, embora, em 2024, o debate sobre o modelo econômico do país esteja mais acirrado.
Críticos apontam que o Uruguai não avançou em sua agenda de reformas fiscais, necessárias para lidar com um Estado pesado e um mercado de trabalho pouco flexível.
Além disso, os desafios da inflação e do endividamento público ainda são questões pendentes, que exigem uma abordagem mais cautelosa no futuro.
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