Quando alguém lhe dizia que estava "doente de amor", você provavelmente imagina alguém chorando ao som de músicas melancólicas, comendo sorvete direto do pote, ou talvez stalkando a(o) ex.
Mas o que muitos não sabem é que essa expressão tem raízes profundas e históricas que remontam à antiguidade, quando o amor era literalmente tratado como uma doença.
Vamos embarcar numa viagem (um pouco hilária) através dos tempos, explorando como o amor já foi visto como uma condição médica digna de tratamentos diversos – alguns dos quais fariam qualquer um perder o apetite por corações partidos.
Amor na antiguidade
Comecemos com os gregos antigos, sempre tão dramáticos em suas interpretações da vida e da existência. Hipócrates, o pai da medicina ocidental, tinha uma visão um tanto peculiar sobre o amor.
Segundo ele, essa emoção avassaladora podia desbalancear os quatro humores do corpo – sangue, fleuma, bile amarela e bile negra – resultando em uma condição que ele chamava de “amor frenético”.
Imagine só! Hoje, culparíamos o stress, mas naquela época, o cupido era o principal suspeito quando alguém começava a mostrar sinais de comportamento errático.
Platão, o filósofo, não ficou atrás. Em seu diálogo "O Banquete", ele descreve o amor como uma forma de loucura divina, algo enviado pelos deuses para tirar os homens de sua sobriedade e lançar-lhes numa jornada de introspecção e autodescoberta. A visão de Platão, embora poética, ainda tratava o amor como uma espécie de desordem mental.
Idade Média: amor cortês e suas torturas
Avançando para a Idade Média, entramos na era do amor cortês – uma época em que poetas e trovadores cantavam sobre amores impossíveis e corações partidos.
Aqui, o amor não correspondido era mais do que uma simples dor de cotovelo; era uma verdadeira enfermidade. Os sintomas eram assustadoramente familiares: insônia, perda de apetite, palpitações, e um olhar vazio fixado na janela à espera de um sinal do amado.
Os médicos medievais, sempre prontos para um novo desafio, levavam esses sintomas muito a sério. Tratamentos variavam desde banhos frios (para esfriar a febre do amor) até sangrias (para equilibrar os humores, claro).
Se você pensa que ir ao psicólogo é complicado, imagine explicar ao seu médico medieval que você está "amando demais". Eles provavelmente sugeririam uma dieta de carne crua e jejum, acreditando que assim você purgaria o amor do seu sistema.
Renascimento e a psicologia do amor
No Renascimento, as coisas começaram a mudar um pouco, embora a visão do amor como uma condição quase patológica persistisse. Nesta época, o amor era visto como algo que poderia levar à melancolia – uma condição médica bem documentada, associada a um excesso de bile negra.
Não, isso não é uma metáfora para o chocolate amargo que você devora após um rompimento; era uma explicação médica real para o humor sombrio que acompanhava a paixão não correspondida.
Século XIX: romantismo e erotomania
Pulando para o século XIX, encontramos o movimento romântico, onde o sofrimento por amor atingiu seu ápice. Era moda sofrer por amor; os poetas romantizam o ato de ser rejeitado, transformando a dor em arte. Porém, essa época também surgiu um termo mais técnico para o excesso de amor: a erotomania.
Erotomania era diagnosticada como uma condição em que a pessoa acreditava obsessivamente que alguém, geralmente de uma classe social superior, estava secretamente apaixonado por ela. Tratamentos para essa condição variavam de terapias de choque (sim, isso era tão horrível quanto parece) a internações em sanatórios.
Século XX: Freud e a psicanálise
Chegando ao século XX, a visão do amor como doença começou a desvanecer graças à psicologia moderna. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, não via o amor como uma doença, mas sim como uma expressão de desejos inconscientes.
Para Freud, o amor romântico era uma manifestação da libido, uma força vital que impulsionava todas as ações humanas. Em vez de tratar o amor como uma doença, ele o via como algo a ser analisado e compreendido.
Dias atuais: o amor nos consultórios
Nos tempos modernos, a medicina e a psicologia continuam a explorar os efeitos do amor, mas de maneira muito menos patológica. Agora, o amor é considerado uma parte normal da experiência humana, com seus altos e baixos.
Os sintomas que antigamente eram tratados como doença são agora vistos como respostas naturais a experiências emocionais intensas.
A ciência moderna inclusive mostra que o amor ativa as mesmas áreas do cérebro que a cocaína, liberando uma enxurrada de dopamina e criando aquela sensação de euforia.
Claro, o “mal de amor” ainda existe, mas agora o tratamento típico envolve mais autoconhecimento, terapia e, possivelmente, uma boa dose de sorvete e maratonas de séries.
A tentativa humana de entender e controlar o amor tem sido uma mistura de ciência, filosofia e um pouco de loucura.
Hoje, ao invés de sangrias, temos aplicativos de namoro; em vez de banhos frios, temos playlists no Spotify; e, felizmente, em vez de internações, temos terapias.
A modernidade trouxe novas formas de lidar com o sofrimento amoroso, mas ele ainda nos deixa insone, comendo demais ou de menos, e às vezes até com a sensação de estar fora de controle.
E quem sabe, no futuro, novas teorias surjam para explicar esse fenômeno eterno, mantendo viva a ideia de que, no final das contas, todos nós estamos um pouco loucos de amor.
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