Macacos-prego do nordeste do Brasil demonstram uso sofisticado de ferramentas e técnicas de alimentação

Pesquisadores do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) documentaram comportamentos notáveis de macacos-prego (Sapajus libidinosus) no Nordeste do Brasil, que revelam um uso avançado de ferramentas e técnicas alimentares adaptativas. Esses achados foram publicados na revista científica Primates em 25 de maio.


Uso sequencial de ferramentas no Ceará


Em uma região do Ceará, foi observada uma população de macacos-prego utilizando pedras e gravetos em sequência para extrair alimentos do solo, como aranhas escondidas em tocas subterrâneas. 


Este comportamento de usar duas ferramentas diferentes para um objetivo específico é raro no reino animal. 


Os chimpanzés, por exemplo, utilizam galhos, mas não pedras, enquanto ancestrais humanos podem ter usado pedras para cavar, mas ainda não há dados conclusivos sobre isso.


Tatiane Valença, pesquisadora do IP e da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), destacou a importância dessa descoberta. 


"Os primatas não humanos podem nos ajudar a reconhecer potenciais ferramentas no registro arqueológico", afirmou Valença, sugerindo que esse comportamento pode indicar uma cultura mais complexa entre os macacos-prego do que se imaginava anteriormente.


Consumo de insetos tóxicos no Piauí


Outra observação significativa ocorreu no Parque Nacional Serra da Capivara (PNSC), no Piauí. 


Um grupo de macacos-prego foi documentado consumindo uma espécie tóxica de gafanhoto (Stiphra sp.) ao remover cuidadosamente o intestino do inseto, onde estão concentradas as substâncias mais perigosas. Esta habilidade é semelhante a técnicas culinárias humanas de limpeza de peixes, por exemplo.


Henrique Rufo, pesquisador do IP-USP, explicou que esse comportamento é aprendido pelos filhotes, que levaram tempo para aperfeiçoar a técnica. "Os macacos imaturos tiveram mais dificuldade, tanto na remoção, quanto no consumo da gordura, demorando mais tempo e aproveitando menos o inseto", disse ele. 


"Isso pode ser um indicativo de que há um processo de aprendizagem no consumo do inseto", acrescenta.


Os resultados desses estudos sugerem que os macacos-prego possuem uma capacidade de adaptação e aprendizado sofisticada, comparável em alguns aspectos à dos humanos. 


A habilidade de usar ferramentas e técnicas alimentares complexas pode fornecer insights valiosos sobre a evolução da inteligência e cultura em primatas.


Rufo enfatizou a relevância ecológica dessas descobertas. "A elucidação sobre os fatores ecológicos que influenciam o comportamento desses animais pode sempre contribuir para o desenvolvimento de melhores estratégias para preservação tanto das espécies quanto do ambiente", concluiu.


Vídeo: Luiza Caires

Reportagem do vídeo: Júlio Bernardes

Trilha: Bruno Torres Nogueira

Foto: Ilustração da pesquisa

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