Relatório dos EUA questiona relação entre alimentos ultraprocessados e obesidade

Um novo relatório dos principais consultores dietéticos do governo dos EUA desafia a noção amplamente difundida de que alimentos ultraprocessados são responsáveis pelo aumento da obesidade. 


O estudo, conduzido pelo Comitê Consultivo de Diretrizes Dietéticas dos EUA (DGAC), sugere que a quantidade de calorias ingeridas, e não o nível de processamento dos alimentos, é o fator mais crucial para o ganho de peso.


A revisão analisou mais de uma dúzia de estudos realizados desde a década de 1990 e encontrou evidências limitadas de que alimentos ultraprocessados causam ganho de peso mais rapidamente do que outros tipos de alimentos. Trechos do relatório foram divulgados online, mas o documento completo ainda não foi publicado.


Carolyn Williams, nutricionista registrada que não participou da revisão, afirmou ao DailyMail.com que o relatório pode surpreender muitas pessoas que têm ouvido repetidamente sobre os riscos dos alimentos ultraprocessados para a saúde.


“O que eles estão dizendo não é que não haja relação entre alimentos ultraprocessados e maior tamanho corporal ou maior gordura corporal. Eles estão dizendo que, no momento, não temos pesquisas conclusivas suficientes para dizer: evite todos os alimentos ultraprocessados”, explicou Williams.


Definição e estudos em debate


A definição de alimentos ultraprocessados, conforme usada no sistema de classificação NOVA desenvolvido por cientistas brasileiros, está no centro do debate. 


Este sistema classifica alimentos que contêm ingredientes não usados na culinária caseira, como aditivos e estabilizantes, como ultraprocessados. No entanto, esta classificação não leva em conta o conteúdo nutricional dos alimentos.


O relatório da DGAC expressou "sérias preocupações" sobre o viés nos estudos que ligaram alimentos ultraprocessados ao aumento de peso, destacando que a definição desses alimentos não é uma ciência exata e pode estar sujeita a “classificação incorreta”.


Reações da comunidade científica


Connie Diekman, nutricionista registrada no Missouri, afirmou em uma postagem na plataforma X que, até que uma definição clara para ultraprocessados seja estabelecida, o corpo de evidências não fornecerá uma resposta definitiva. A falta de estudos laboratoriais específicos sobre o tema também é um obstáculo para conclusões mais firmes.


Além disso, críticos apontam que o relatório não aborda outras preocupações de saúde associadas aos alimentos ultraprocessados, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas e problemas de saúde mental. 


Um estudo da Universidade Deakin, na Austrália, revisou pesquisas abrangendo cerca de 10 milhões de pessoas e encontrou associações entre alimentos ultraprocessados e diversos problemas de saúde.


Política e regulação


O DGAC recomendou mais pesquisas antes de estabelecer diretrizes definitivas sobre alimentos ultraprocessados. 


A FDA (Food and Drug Administration) dos EUA está explorando a rotulagem nutricional na frente das embalagens como parte de uma estratégia para ajudar os consumidores a fazer escolhas alimentares mais saudáveis. 


Em uma reunião pública organizada pela Fundação Reagan-Udall para a FDA em novembro de 2023, foram discutidas iniciativas para melhorar os padrões alimentares e fornecer informações nutricionais claras.


Na Conferência sobre Fome, Nutrição e Saúde, em setembro de 2022, a Casa Branca divulgou uma Estratégia Nacional para acabar com a fome e aumentar a alimentação saudável até 2030. 


Esta estratégia inclui diversas iniciativas da FDA para capacitar os consumidores com informações nutricionais acessíveis e criar um abastecimento alimentar mais saudável. 


Uma das propostas é um sistema padronizado de rotulagem nutricional na frente das embalagens para ajudar os consumidores a identificar rapidamente opções alimentares saudáveis.


Um novo estudo do Programa Global de Pesquisa Alimentar da UNC-Chapel Hill e do Instituto George para Saúde Global sugere um caminho para a identificação de alimentos ultraprocessados ricos em nutrientes preocupantes, como sal, açúcar e gorduras saturadas, para regulação. 


Esse estudo pode orientar políticas como impostos sobre alimentos ultraprocessados, restrições de marketing e etiquetas de advertência na frente das embalagens.


Entenda mais sobre o caso no vídeo abaixo.



Fontes: Comitê Consultivo de Diretrizes Dietéticas dos EUA, DailyMail.com, Universidade Deakin, FDA, Casa Branca, Programa Global de Pesquisa Alimentar da UNC-Chapel Hill, Instituto George para Saúde Global.


Foto: Canva

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