Resenha: por que crianças matam - a história real de Mary Bell

A leitura de fevereiro revisitou a história de Mary Bell, uma menina de 11 anos que assassinou duas crianças: Martin Brown, de 3 anos, e Brian Howe, de 4 anos, em Newcastle upon Tyne, na Inglaterra, no ano de 1968.

Mary Bell foi julgada e condenada à prisão perpétua, mas cumpriu apenas 12 anos da pena. Sua melhor amiga, Norma Bell, que também passou por julgamento por estar na cena do crime, saiu em liberdade.


A obra de Gitta Sereny, que originalmente chama-se “Gritos no Vazio”, aponta como a imprensa sensacionalista transformou uma menina em um ser repugnante, perigoso e maléfico. 


Gitta não redime a culpa de Mary, mas não concorda com a forma como foi dado o andamento do processo. Para a autora, a criança foi julgada como adulta, sem nem ter tido a oportunidade de passar por um exame psicológico. Ninguém se preocupou em conhecer seu passado para saber se algo estava errado com ela. E, de fato, tinha muita coisa pairando sobre sua cabeça. 


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Sereny, no final do livro, fala do sofrimento pelo qual Mary Bell passou desde seu nascimento. Dos 4 até os 8 anos ela foi abusada sexualmente pelos clientes de sua mãe, que era prostituta. Além de consentir com os crimes, Billy Bell era viciada em drogas e alcoólatra e tentou matar a filha ainda quando ela era um bebê. 


Tudo isso, segundo a autora, pode ter sido um pavio de pólvora. Sem cuidados e sem alguém para orientá-la, em algum momento Mary iria explodir. 


No livro Gitta diz que “nos primeiros 5 anos de encarceramento (dos 11 aos 16 anos) em uma unidade de segurança na qual não tinha qualquer assistência psiquiátrica, [Mary Bell] encontrou no diretor, um ex-oficial da Marinha, o primeiro adulto decente a quem ela podia respeitar e amar”. Mas, após ser transferida para uma prisão feminina de segurança máxima, tudo que ela aprendeu nesses 5 anos foram destruídos.



A escritora aponta ainda: “a explicação para as milhares de crianças desconhecidas que estão em prisões na Europa e nos Estados Unidos por crimes cometidos não em razão daquilo que elas são, mas daquilo que foram levadas a ser por não serem ouvidas quando, em sua infância, elas gritaram por socorro”. 

Gritos no vazio, como prefiro mencionar - afinal faz mais sentido esse título do que Crianças que Matam, entenda o porquê disso no vídeo abaixo (já peço desculpa pelo erro, pois antes de escrever esse artigo eu não havia pesquisado nada sobre a autora e sua obra, e o vídeo foi gravado antes) - fala também da vida de Mary na cadeia. 


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Lá ela aprendeu sobre jogos de poder, corrupção e como usar o sexo a seu favor para manipular todos a sua volta. Mostra como foi sua transformação, em como e porque decidiu se envolver com as detentas e de que forma tornou-se incontrolável, muito diferente da menina que entrou em uma instituição só para garotos no início de sua detenção.  


Mary Bell, mesmo após cumprir com seu dever na justiça, nunca mais pôde viver tranquila com sua família. Hoje ela é mãe e avó. Ganhou na justiça o direito de se manter em anonimato até o fim de sua vida.  



Fotos: Ilustração

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