EX-USUÁRIO DE DROGAS SUPERA VÍCIO E ABRE CLÍNICA PARA DEPENDETES QUÍMICOS

Gabriel Agileu é ex-usuário de drogas. Hoje, com 47 anos e mais de 35 internações, conta que a ilusão de querer ser quem não era, fez dele um viciado. Começou a usar drogas aos 19 anos porque era tímido e queria ser “descolado como os outros”.

Provou, durante 23 anos, quase todos os tipos de entorpecentes: maconha, álcool, cocaína, crack – menos heroína –, e lutou durante dois anos para largar a obsessão. Ele lembra o quanto foi difícil e diz ainda passar por acompanhamentos: “Sim, faço. Pois são para o resto da vida”.

Sozinho eu não consigo. Tenho que ter um padrinho para partilhar diariamente, que me ajude e não acoberte a minha doença e que também queira o meu bem”, completa.

Foram muitas recaídas e tratamentos dolorosos. Segundo Agileu, as abstinências vinham disfarçadas de dores de cabeça, ouvido, dente e furúnculos, além da saudade. Não viver da forma que achava correto o perturbava. “Queria usar drogas. Era saudade de me livrar das dores físicas, mentais e espirituais, pois não tinha habilidade para lidar com aquilo”.

Livre do vício há 5 anos, Gabriel agradece por ter encontrado uma clínica com métodos apropriados que, além de libertá-lo da dependência, ainda o inspirou a abrir a própria instituição. “Depois de várias internações, encontrei uma clínica onde tive um tratamento adequado. Quando me disseram que o meu comportamento e os meus sentimentos deveriam ser trabalhados, me dei conta de uma personalidade que não era minha. Eu só queria agradar as pessoas, aí descobri que para ser feliz eu só precisava ser eu mesmo”, confessa.

Gabriel é terapeuta em dependência química e sua clínica, localizada em Cuiabá, já têm mais de dois anos de funcionamento e 14 residentes. A ideia de montar algo para si veio das experiências fracassadas que viveu nos diferentes estabelecimentos em que passou e não deram resultados, e na vontade de fazer um trabalho melhor pelos outros.

As atividades da casa envolvem dedicação e compromisso no reconhecimento do indivíduo, mexendo com o emocional, com práticas de relaxamento, terapia ocupacional e desenhos. São necessários nove meses de assistência. Os três primeiros são para inibir a compulsão física pelo uso das substâncias.

Nesse período, ensinamos a lidar com os pensamentos e sentimentos de perdas e ganhos na vida”, explica.

O Relatório Mundial sobre Drogas do ano de 2016 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) aponta que cerca de 5% da população mundial, ou seja, 250 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos usaram algum tipo de entorpecentes em 2014. Essa parcela não sofreu alterações nos últimos quatro anos, mas o número de cidadãos com “transtornos relacionados ao consumo de drogas aumentou desproporcionalmente pela primeira vez em seis anos”, diz o estudo.

Foto: Ilustração

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