Localizada a pouco
mais de 50 km da capital paulista, a vila desperta encantamento e, ao mesmo
tempo, tristeza
Sábado,
30 de março. O dia começou sem esperanças para quem queria ver o vilarejo iluminado
pelos raios solares. Tímido, ele resolveu sair ao poucos e só se manteve firme
após às 8h, quando já era possível avistá-lo de dentro do trem que partia da
estação Brás do metrô sentido Rio Grande da Serra, acesso à pequena vila de
Paranapiacaba. Ao chegar lá, em um dos pontos mais altos da região, exatamente na
igreja Bom Jesus, porta de entrada para a cidade, foi possível ter uma visão
panorâmica do local. E o sol? Ah!, esse continuou inarredável. A neblina, carta marcada
de todos os dias, só apareceu ao cair da tarde.
Paranapiacaba
é conhecida e admirada pelos visitantes por causa de sua história, que começou
em meados dos anos 1860 quando foi inaugurada a primeira linha férrea: São
Paulo Railway. Anos depois, se tornou um dos principais pontos turísticos da
Grande São Paulo após ser desativada.
Não
é difícil se encantar com a beleza da vila de característica inglesa. Seus 4,81
km² banhados com muito verde dá espaço ao ecoturismo, a competições de bikes e
corridas. O ambiente é perfeito para quem gosta de apreciar a natureza e o
clima tropical úmido do alto da Serra do Mar. Porém, a venustidade se perde em
meio ao descaso. De longe, uma cidadezinha charmosa, de perto, um verdadeiro
abandono.
Antes
de chegar à estação ferroviária é preciso atravessar ruas e ponte. Uma bela
vista. Pequenos comércios ficam lotados de turistas de vários lugares do mundo.
Subir a ladeira na volta é uma verdadeira corrida de obstáculos humano. Daqui,
ainda não se avista as inúmeras irregularidades e destroços.
O
desalento paira também sobre Dona Francisca, uma das mais antigas moradoras da
cidade. “É muito triste ver Paranapiacaba nesse estado”. Ela conta que,
antigamente, a vila era bonita, mas que hoje em dia não é mais! Lembra-se dos
trens que iam e vinham. Descreve e aponta da varanda de sua casa, onde vende
artesanato – emocionada, cada detalhe da época dos transportadores de café. “Têm
áreas aqui da cidade que hoje ninguém mais pode ir, nem os moradores. É
restrito. Tudo está protegido pela prefeitura de Santo André”, diz.
O
sonho de Dona Francisca, aparentemente com 80 anos, pois não quis revelar a
idade, é ver o patrimônio histórico em boas condições. “Os trens deveriam estar
envolvidos por vidros (sic), assim o tempo não deterioraria as máquinas e seria
possível contemplá-los”, completa.
Andar
pela Vila de Paranapiacaba é tão curioso quanto divertido. Existem inúmeras
lendas, inclusive uma principal: a do castelinho – antiga casa do engenheiro-chefe
ferroviário, restaurada em 2005, que dizem ser assombrada (a visitação da
grandiosa construção arquitetônica custa R$ 2 por pessoa). Além de outras como:
da cachoeira e o véu da noiva - refere-se à neblina que encobre e faz a vila
desaparecer.
O
fato é que Paranapiacaba tem realmente seus altos e baixos. E é entre uma
paisagem deslumbrante e outra esquecida que notamos sua dualidade.
Foto: Bruno Delorence
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