Pesquisadores de dois grandes estudos de coorte, um na Noruega e outro na Inglaterra, analisam possíveis ligações entre padrões alimentares durante a gravidez e o desenvolvimento de autismo nas crianças.
Estudo de coorte é um tipo de pesquisa observacional amplamente utilizado em epidemiologia e ciências da saúde para investigar a relação entre exposições específicas (como fatores ambientais, comportamentais ou genéticos) e o desenvolvimento de doenças ou outras condições de saúde ao longo do tempo.
Eles são valiosos por sua capacidade de fornecer evidências fortes sobre associações causais, especialmente em situações onde ensaios clínicos randomizados são impraticáveis ou eticamente inviáveis. Por exemplo, o famoso Estudo de Coorte de Framingham, iniciado em 1948, forneceu dados essenciais sobre os fatores de risco para doenças cardiovasculares.
Publicado recentemente pela JAMA Network Open, a pesquisa, conduzida por uma equipe de cientistas liderada pela Dra. Catherine Friel, envolveu dados de dois estudos de coorte de grande escala: o Estudo Norueguês de Mãe, Pai e Criança (MoBa) e o Estudo Longitudinal Avon de Pais e Crianças (ALSPAC), realizado no sudoeste da Inglaterra.
Isso permitiu acompanhar as mães e suas crianças ao longo do tempo, observando como a alimentação durante a gravidez poderia influenciar o desenvolvimento de autismo e dificuldades de comunicação social nas crianças.
Foram analisados dados de 84.548 gravidezes no MoBa e 11.760 gravidezes no ALSPAC.
As participantes responderam a questionários de frequência alimentar, que permitiram aos pesquisadores avaliar a aderência a um padrão alimentar saudável durante a gravidez.
Esse padrão incluía alta ingestão de frutas, vegetais, peixes, nozes e grãos integrais, e baixa ingestão de carnes vermelhas e processadas, refrigerantes e alimentos ricos em gorduras e carboidratos refinados.
Os resultados mostraram que a alta aderência a uma alimentação saudável estava associada a uma menor probabilidade de diagnóstico de autismo e dificuldades de comunicação social nas crianças.
No estudo MoBa, as crianças cujas mães seguiram uma dieta saudável tinham uma chance 22% menor de serem diagnosticadas com autismo. No ALSPAC, observou-se uma redução similar nas dificuldades de comunicação social.
Porém, os pesquisadores não encontraram evidências consistentes de associação entre a dieta pré-natal saudável e outros comportamentos restritivos e repetitivos associados ao autismo.
É importante ressaltar que a pesquisa não prova causalidade, mas sim uma associação. A Dra. Friel e sua equipe destacam a necessidade de mais estudos para entender melhor os mecanismos subjacentes a essa relação e para confirmar esses achados em diferentes populações.
As intervenções nutricionais durante a gestação podem ser uma área promissora para futuras pesquisas e políticas de saúde pública.
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