Crime
faz duas décadas no momento em que se inicia a Jornada Mundial da Juventude.
Enquanto todos os condenados estão em liberdade, vítimas e ativistas lutam para
que tragédia não caia no esquecimento.
A reportagem é do sítio
Deutsche Welle

Duas décadas depois, um dos
crimes mais atrozes da história do Rio parece cair no esquecimento– e a
sensação é de impunidade. A investigação da Chacina da Candelária, como o
massacre ficou conhecido, levou à condenação de três policiais militares.
Considerado o principal
responsável, Marcus Vinícius Emmanuel Borges recebeu indulto da Justiça e foi
liberado após 18 anos de prisão. O Ministério Público do Rio recorreu da
sentença, e o indulto acabou sendo suspenso. Desde então, ele é considerado
foragido. Os outros dois condenados – Marcos Aurélio Dias Alcântara e Nelson
Oliveira dos Santos Cunha – receberam penas superiores a 200 anos, mas também
foram indultados e hoje estão soltos.
Ofuscada
pela visita do papa
Em meio ao tumulto provocado
pela visita do papa Francisco, a lembrança da tragédia da Candelária acabou
ofuscada. Enquanto a abertura do festival católico reuniu mais de 500 mil
peregrinos na praia de Copacabana, faltou público para o evento em memória das
vítimas do massacre.
"Esse crime brutal de
repercussão planetária completa 20 anos coincidentemente no dia em que estamos
pedindo vida para os jovens, mais oportunidades de trabalho", diz o padre
Marco Lázaro, da paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, no bairro de Botafogo.
O jovem padre franciscano
faz pregações para os ouvintes da Rádio Catedral durante as madrugadas. Ele
dedicou o programa de terça-feira (23/07) às vítimas da Candelária. "A
vigília deve ser um grande momento de oração e também um momento para dizer a este
mundo carioca tão bonito que ainda há muita coisa feia aqui, como o desprezo às
crianças", afirmou Lázaro.
O "lado feio" de
muitas grandes cidades brasileiras é comprovado pelas estatísticas. De acordo
com o Censo, em 75 cidades com mais de 300 mil moradores havia 23.973 crianças
e adolescentes morando nas ruas em 2011. A maioria são garotos entre 12 e 15
anos. O estado com maior número de meninos e meninas de rua é o Rio de Janeiro
(5.091 jovens), seguido por São Paulo (4.751) e Bahia (2.313).
Trauma
ainda vivo
Uma semana antes da abertura
da Jornada Mundial da Juventude, ONGs realizaram uma missa em homenagem às
vítimas. Assim como fizeram na época da chacina, eles colocaram uma cruz em
frente à Igreja da Candelária – desta vez, a cruz usada na Jornada – para
lembrar os jovens mortos 20 anos atrás.
"Todo ano, a gente
realiza uma atividade aqui na Candelária para não cair no esquecimento da
população. A gente quer que isso [chacina] não aconteça mais, mas sempre
acontece", lamenta Patrícia de Oliveira, irmã do sobrevivente Wagner dos
Santos, após participar da celebração.
Na época do massacre, Wagner
tinha 20 anos. Na ação, o rapaz foi arrastado por policiais militares para
dentro de um carro, alvejado e depois solto. Juntamente com um amigo, ele teria
atirado pedras contra o para-brisa de uma viatura.
Depois de sofrer um atentado
em 1994, Wagner, principal testemunha da chacina, entrou num programa de
proteção e há 19 anos mora na Suíça. Ele ainda tenta superar várias sequelas da
violência e sofre de envenenamento por chumbo, decorrente dos fragmentos de
bala que ficaram alojados sem eu corpo.
O padre Marco Lázaro espera
que o papa Francisco se recorde da tragédia da Candelária e de suas vítimas
durante a Jornada Mundial da Juventude. "A Igreja deve ser mais proativa,
mais ousada na sua missionaridade, mostrar que está atenta aos problemas
sociais. Sem substituir o Estado, a Igreja pode ter uma presença social mais
efetiva", afirma Lázaro.
Com suas pregações, ele diz
pretender mostrar que o trabalho da Igreja não está limitado a sacramentos e
música. "O papa Francisco está fazendo essa voz ecoar muito bem",
opina.
Publicado no site do Instituto Humanistas Unisinos
Publicado no site do Instituto Humanistas Unisinos
0 Comentários